Dados do Trabalho
Título
A CENTRALIDADE DO CUIDADO NA FIGURA FEMININA: uma análise a partir dos atendimentos realizados em um centro oncológico pediátrico
Introdução
O presente artigo aborda o câncer infantil, destacando sua complexidade e impacto nas famílias. Destaca o papel central das mulheres, principalmente mães, no cuidado às crianças com câncer. Aponta a falta de políticas públicas adequadas como um desafio adicional para as famílias vulneráveis, bem como, à estrutura social, que reforça papéis de gênero e impõe desigualdades, evidenciando a necessidade de políticas sociais que apoiem efetivamente as famílias nesse contexto.
Objetivo
O objetivo principal é analisar os determinantes culturais, sociais e econômicos que legitimam a figura da mulher como sendo a principal responsável a assumir o papel de cuidadora na atenção às crianças e adolescentes em tratamento do câncer.
Método
O estudo caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa, que buscou analisar o perfil dos usuários atendidos pelo serviço social de uma Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) pediátrico na cidade de São Paulo. Os dados apresentados consiste no levantamento dos atendimentos realizados aos usuários ao longo do ano de 2023 pelo serviço social. Foram realizados 1.109 atendimentos pelas assistentes sociais. Os atendimentos de retorno foram descartados, assim 494 pacientes atendidos no período.
Resultados
Dos 494 atendimentos, 449 foram realizados por mulheres, 29 por homens e 16 por ambos os pais. A mulher é a principal cuidadora, muitas vezes sacrificando sua identidade, relações sociais, familiares e conjugais para se dedicar aos seus filhos. Com isso, a falta de uma rede de apoio resulta na sobrecarga da cuidadora, acarretando seu próprio adoecimento e exaustão. Assim, a centralidade da família, especialmente das mulheres, nos cuidados sociais no Brasil é histórica e fundamental. O Estado tem se beneficiado da participação voluntária da família na provisão do bem-estar, especialmente após a crise econômica do Estado de bem-estar social dos anos 1970 e 1990. No contexto neoliberal, há uma parceria entre Estado, mercado e sociedade, onde a responsabilidade da proteção social é transferida às famílias, reduzindo a ação estatal. Essa dinâmica reforça papéis tradicionais de gênero e impõe desafios às famílias, especialmente as de classes trabalhadoras, exacerbando desigualdades sociais.
Conclusão
Autores mostram que o câncer provoca rupturas biográficas para doentes e suas redes de apoio. Mães frequentemente cuidam sozinhas de crianças com câncer, enquanto pais estão ausentes. É crucial que cuidadores recebam cuidados e que se contestem as relações de gênero desiguais.
Área
Adolescentes e Adultos jovens
Categoria
Categoria Multiprofissional
Autores
Mariana Amaral Paiva Brito