Dados do Trabalho
Título
Tumor de Mama com Mudança Radical de Perfil Imunohistoquímico: Relato de caso
Introdução
A heterogeneidade do carcinoma da mama define desfechos distintos em relação ao prognóstico e resposta às terapias instituídas. O perfil imunohistoquímico (IHQ) determinado por receptores hormonais de estrogênio (RE) e de progesterona (RP) e pela superexpressão do gene HER2 parece predizer sua evolução clínica, sendo o manejo terapêutico da doença metastática muitas vezes guiado por tal padrão na lesão inicial. Entretanto, pode haver discordância entre o subtipo molecular do tumor primário e da lesão metastática.
Objetivo
O presente estudo objetiva questionar a influência da redefinição do perfil IHQ da neoplasia de mama após diagnóstico de metástase, tendo em vista possíveis mudanças nas decisões terapêuticas.
Casuística
Paciente do sexo feminino, 33 anos, em acompanhamento no serviço de Oncologia por tumor de mama.
Método
Paciente diagnosticada com carcinoma em mama esquerda em 2019 em serviço distinto ao atual, com biópsia de mama esquerda revelando carcinoma infiltrante moderadamente diferenciado de grau II (Nottingham). Iniciou tratamento neoadjuvante com esquema AC-PCT dose densa seguido de adenomastectomia bilateral com esvaziamento axilar esquerdo. IHQ da peça cirúrgica evidenciou carcinoma invasivo não especial (Luminal B) HER2 negativo, Ki67 positivo em mais de 10%, RE positivos em 90%, RP positivos em 10% e E-caderina positiva. Identificada mutação no gene TP53, levando ao diagnóstico de Síndrome de Li-Fraumeni. Iniciou-se radioterapia adjuvante e hormonioterapia com Letrozol e Goserelina. Em 2021, realizou-se PET-CT que evidenciou concentração anômala de FDG em diversos segmentos da coluna vertebral, além de Ressonância Magnética de coluna lombossacra, que corroborou a possibilidade de implante neoplásico secundário. Paciente chega ao serviço atual, no qual inicia tratamento com Zoometa, Fulvestranto e Abemaciclibe. Realizada biópsia de corpo vertebral, que indicou metástase de carcinoma mamário, com RE negativos, RP fracamente positivos e HER2 positivo. Revisão das lâminas da neoplasia primária confirmaram padrão do diagnóstico inicial.
Resultados
As alterações no padrão IHQ que ocorrem durante a progressão metastática do câncer de mama ainda são pouco caracterizadas. A heterogeneidade tumoral e sua capacidade de gerar clones com diferentes propriedades moleculares apresentam-se como uma hipótese para a discordância entre os padrões do tumor original e da metástase. A taxa de conversão em tumores de mama Luminal B é de 30%, sendo mais comum no subtipo Luminal A, o qual apresenta também maior prevalência de metástase óssea, indicando a infrequência da evolução apresentada pela paciente. Diante da alteração do perfil IHQ na lesão metastática do caso em questão, a terapia em andamento foi suspensa e substituída por esquema com Trastuzumabe, Pertuzumabe e Paclitaxel, com boa resposta terapêutica.
Conclusões
A taxa de discordância entre o padrão molecular da neoplasia primária e da doença metastática corrobora a necessidade de uma redefinição do perfil IHQ ao diagnóstico de metástase. Isso prediz uma contribuição considerável no manejo e prognóstico do câncer, ao evitar uma terapêutica potencialmente equivocada.
Palavras-chave
Câncer de mama. Imunohistoquímica. Metástase óssea.
Conflitos de interesse
Não há.
Área
Tumores da mama
Instituições
Hospital Monte Sinai - Minas Gerais - Brasil, Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF - Minas Gerais - Brasil
Autores
ISABELLA VILLAR AGUIAR, ARTUR JOSÉ AZEVEDO PEREIRA, BRUNA ROCHA LOPES, CARLA MENEGHETTI GALDINO, EDIMAR SERAFIM GONÇALVES NETO, CHRISTIANE MARIA MEURER ALVES, LUIZ HENRIQUE SALAMONI ABAD