Dados do Trabalho


Título

Ventrículo-encefalite no imunossuprimido, quando pensar em CMV?

Introdução

O citomegalovírus (CMV) é um dos herpesvirus mais prevalentes, estimando-se que 80 a 90% da população mundial seja portadora do vírus latente. Indivíduos imunocomprometidos, principalmente pós-transplante e em decorrência da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), são os mais suscetíveis a formas graves da infecção, geralmente por reativação viral. A encefalite por CMV é uma forma grave e potencialmente fatal, onde os estudos de imagem podem aumentar a suspeição para este agente etiológico, contribuindo com o direcionamento diagnóstico e terapêutico.

Descrição

Paciente masculino, 57 anos, procurou serviço de urgência com queixas de confusão mental, mal estar, hiporexia e febre há uma semana. Possuía antecedente de infecção leve por COVID-19 no mês anterior e tratamento com corticóide antes do início dos sintomas atuais. A ressonância nuclear magnética evidenciou dilatação difusa do sistema ventricular, fino realce linear ependimário/ subependimário nos ventrículos laterais, por vezes, com restrição à difusão, e focos de realce leptomeníngeos delineando as fissuras e folias cerebelares. O estudo do líquor apresentou aumento da celularidade de predomínio linfomononuclear, proteínas de 57mg/dl, glicose de 45 mg/dl e PCR para CMV detectado. A sorologia para HIV foi reagente. O paciente recebeu ganciclovir e realizou controle de imagem após quarenta dias, com remissão da restrição à difusão e do realce ependimário, assim como do realce leptomeníngeo cerebelar.

Discussão

No caso apresentado temos a ventrículo-encefalite por CMV como forma de apresentação da imunodeficiência relacionada ao HIV. Tais quadros podem manifestar-se com confusão, desorientação, apatia, neuropatias de pares cranianos e nistagmo. Embora os achados de imagem possam estar ausentes ou serem inespecíficos, a distribuição ependimária/ subependimária é característica do acometimento por CMV, manifestando-se como hipersinal em T2/ FLAIR linear subependimário, associadas a realce linear ou focal pelo meio de contraste e restrição à difusão. Lesões nodulares com realce periférico e realce meníngeo também podem estar presentes, mas são menos específicos. O reconhecimento de tais achados na avaliação por imagem é importante por aumentar a suspeição para acometimento por CMV e orientar a realização dos testes específicos, como a pesquisa viral no líquor, permitindo a confirmação diagnóstica e o tratamento específico.

Palavras Chave

Citomegalovírus, Ventriculite cerebral, Encefalite, Imunossupressão, HIV

Área

Neurorradiologia

Autores

Raphael Oliveira Correia , Viviana Loureiro, Jâmeson Ferreira Silva, Glauber Lilargem Siqueira, Rogerio Iquizli, Benjamin Wolf Handfas, Ellison Fernando Cardoso, Renata Bertanha, Luis Filipe Souza Godoy